sexta-feira, 5 de abril de 2013

Lollapalooza 2013: Two Door, Franz Ferdinand, Queens of the Stone Age, The Black Keys e eu pirando!




        Embora o Lollapalooza do ano passado não tenha decepcionado, acabou perdendo a posição de melhor edição do festival no Brasil (mesmo porque até então era a única). Como já disse aqui há um ano, o show dos Macacos no Jockey foi insano. Agora imagine ao menos 5 shows tão insanos quanto esse. Foi o que o ocorreu no Lollapalooza desse ano.

       O Two Door Cinema Club, banda relativamente nova com um som mais voltado para o pop e um toque eletrônico, agitou uma multidão de 50.000 pessoas em sua primeira passagem pelo Brasil. A banda já declarou que a Caipirinha é sua nova bebida predileta, e demonstrou animação com o público brasileiro, com Alex Trimble visivelmente emocionado. De fato, a apresentação da banda empolgou tanto a platéia que tivemos que ficar até a última música - consequentemente tendo que correr muito para não perder o show do Franz Ferdinand.  



      Fazendo uma corrente com as mãos, corremos. E corremos mais um pouco. E ficamos cobertos de lama. Finalmente visualizamos o palco Butantã, onde o Franz Ferdinand abria seu show com o hit "No You Girls", pontualmente às 17h30. A galera pirou. Cantamos, gritamos e pulamos. Tentamos chegar mais perto. Não conseguimos. Voltamos. Nem nos importamos muito, porque a energia da platéia e da banda era tão contagiante que estar perto do palco não importava mais. O mar de pessoas na platéia oscilava a cada nota. E ainda tocaram novas músicas incríveis, com destaque para "Evil Eye". Depois de "Ulysses", tivemos que atravessar a arena mais uma vez e voltar ao Palco Cidade Jardim, onde o Queens of the Stone Age se apresentaria em pouco tempo. No caminho, passamos pelo palco Alternativo e deu pra sentir um gostinho do show do Alabama Shakes.



     Às 18h45, o Queens of the Stone Age quebrou um intervalo de 2 anos sem shows e estreou sua nova turnê, aproveitando também para apresentar o novo baterista, Jon Theodore. A banda também tocou a faixa inédita "My God Is The Sun", introduzida ao mundo pela primeira vez, e pudemos acompanhar de primeira mão enquanto a nova música era transmitida ao vivo para o resto do mundo. "And I'm the drunk guy that sleeps on your couch" diz Josh Homme, erguendo um copo de cerveja após apresentar os outros membros da banda.


     O Black Keys é um caso especial. A banda cresceu absurdamente nos últimos dois anos - muito embora já esteja na indústria musical há mais de 10, com 7 discos lançados. E chegou ao Brasil pela primeira vez já liderando as apresentações do segundo dia de Lollapalooza, mostrando seu bom rock ao público, que acompanhou as canções e puxou um magnífico coro ao fim de "Lonely Boy", arrancando um sorriso do rosto de Dan Auerbach.





terça-feira, 10 de abril de 2012

Arctic Monkeys no Lollapalooza Brasil 2012


Seguindo à risca a pontualidade britânica, o Arctic Monkeys subiu ao palco exatamente às 21h30 da noite, como planejado. Entre a energia da platéia e o alto nível de qualidade da banda, houve muito o que aproveitar. O ritmo contagiante das músicas causou muita empolgação ao público, que não parou em nenhum momento, cantando as letras e acompanhando as guitarras em coro.

É surpreendente pensar que esses meninos de Sheffield simplismente decidiram pedir instrumentos musicais de presente de Natal sem nem mesmo saber tocá-los. O talento nem sempre é óbvio; muitas vezes ele só se mostra forte após a prática, ainda que seja natural. Mas no caso do Arctic Monkeys, não há outra palavra para descrevê-los: talento. Fazer música nunca foi visto como fonte de dinheiro para os Monkeys. Quando começaram a ganhar fama, em 2006, a banda distribuiu gratuitamente seu CD demo para quem quer que quisesse ouvir.

E então, graças à internet, eles explodiram.

Engraçado como a fama vem para quem menos espera. Enquanto garotas fazem loucuras para estampar capas de revista, o Arctic Monkeys pouco se esforçou para chamar a atenção da mídia. De fato, muitas vezes, eles demonstram certo desprezo com relação à imprensa e ao conceito geral de fama. Músicas como "Perhaps Vampires Is A Bit Strong, But...", "Teddy Picker" e "Fake Tales Of San Francisco" são críticas diretas a esse estilo de vida. Essa é mais uma característica bastante única da banda: as letras. Poucos compositores têm a capacidade de escrever pequenas histórias de maneira coerente e transformá-las em música. Esse é o diferencial do Arctic Monkeys. As letras são tão bem escritas que, ao ouvi-las, conseguimos imaginar perfeitamente a situação. Não é como poesia; afinal, estamos tratando de música, e não de literatura; mas certamente há um toque poético nas letras dessas canções. É muito difícil encontrar um compositor hoje em dia que consiga encaixar as mais complexas frases em um refrão, e Alex Turner faz isso com um talento impecável. Alex escreve sobre situações diárias que acontecem em sua vida; coisas que experienciou e cenas que observou, sempre se utilizando de descrições detalhadas. Ao cantar essas letras com seu peculiar sotaque de Sheffield, ele faz com que um pequeno filme rode em nossas mentes. Alguns exemplos disso são as músicas "Cornerstone", "When The Sun Goes Down", "Riot Van", "Do Me A Favour", "From The Ritz To The Rubble", dentre muitas outras.

Essa característica desapareceu um pouco no último álbum. Ao ser questionado sobre o novo estilo de suas letras, Turner simplismente disse estar sendo menos direto; deixando-as mais abertas à interpretação do público. Ao mesmo tempo, ele admitiu evitar tocar algumas de suas músicas mais antigas por não se identificar mais liricamente com elas, sendo muito específicas com relação ao que ele estava vivendo na época. Por isso, não se surpreenda ao se deparar com letras mais vagas em Suck It And See. O álbum, no entanto, não deixa a desejar; o disco mistura novas influências e cria belas melodias, em um passo de mudança na carreira da banda.

Apesar de usar muitas palavras em suas letras, Alex é monossilábico nas entrevistas e sempre pareceu pouco à vontade no ambiente da fama. As letras que escreve serão sempre o mais perto que chegaremos de entendê-lo. A teoria do baterista Matt Helders é a de que, desde que começou a escrever, Turner nunca está 100% concentrado no que faz (além da música). Ele pode estar pensando em rimas no meio de uma conversa, carregando inspiração consigo o tempo todo.

Mas o vocalista que subiu no palco brasileiro no último domingo era outro. Muitos fãs se surpreenderam ao ver um Alex Turner tão animado e à vontade, e aprovaram a mudança. A banda evoluiu socialmente com o passar dos anos, e agora se mostra afiada e já bem acostumada com a atenção da mídia, embora ainda evitando conversas muito longas.

Os Monkeys são conhecidos por manter o foco 100% na música, evitando qualquer tipo de prolongação e indo direto ao ponto, entregando ao público o que ele quer ouvir.  Essa é uma banda que mostra que há outras maneiras de entreter o público. Turner prometeu saltar o mais alto possível, e cumpriu sua palavra: na metade da apresentação de "Still Take You Home", ele subiu na plataforma da bateria de Helders, e saltou em sintonia perfeita com o ritmo da música. Se antes ele se sentia mal sem uma guitarra no ombro, agora até mesmo usufruiu do palco que separava a plateia, durante a performance de "Pretty Visitors", enquanto um amigo tomava seu lugar no teclado. Alex apontou e interagiu com o público em uma atuação energética, contagiando todos que o assistiam.

Matt Helders é um dos poucos bateristas que conseguem captar a atenção imediata da platéia. Esses profissionais geralmente são pouco reconhecidos por estarem sempre nas sombras do líder do grupo, ocupando o fundo do palco. Helders, como muitos outros, acabou na bateria porque "foi o que sobrou". E ainda assim, já é considerado um dos melhores bateristas da atualidade, tendo sido apelidado de "Besta Ágil", devido à sua maneira contagiante de tocar.

"Não consigo tocar nada que eu não tenha inventado. Nunca aprendi a tocar bateria do jeito certo, então sempre que tento fazer um cover, nunca sai perfeito", foi o que ele disse ao Examiner. Considerando o nível da bateria desta música, se isso é não saber tocar direito, podem perder as esperanças, aspirantes a bateristas.

Tudo isso, somado aos impecáveis acordes do baixo de Nick O'Malley e às combinações da guitarra de Jamie "Cookie" Cook, tornou a apresentação única.  Podem voltar, macacos do ártico. Estarei aguardando.

Deixo aqui os melhores momentos do show pra você dar uma olhadinha. E vou te dizer, foi difícil de escolher, porque tudo foi simplismente muito bom.

Aí vai:

A grande entrada com "Don't Sit Down Cause I've Moved Your Chair"


Mais uma vez, a fodástica "Brianstorm":




"I Bet You Look Good On The Dancefloor", dedicada a nós, mulheres! Uhul!



Público cantando "Fluorescent Adolescent" loucamente:



E a última, mas não menos importante: minha favorita, "505":



Se gostou, assista ao show completo aqui!

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Sir Paul McCartney - Live at Yankee Stadium



Há exatamente um mês, em 16 de julho de 2011, eu me preparava para assistir o show de uma das maiores lendas da história da música: Paul McCartney. Tive muita sorte de chegar nos EUA junto com sua nova turnê; os ingressos são mais baratos e a qualidade do show é melhor em quesitos de tecnologia, estrutura e civilização. Ainda que nossos assentos fossem razoavelmente distantes do palco, a imagem dos telões e principalmente a qualidade do som superaram as expectativas.

Mas a verdade é que o som seria de qualidade mesmo com os piores equipamentos possíveis. É impressionante como esse homem, em seus 69 anos de idade, ainda tem a mesma energia que tinha aos 20. Sua vontade de fazer música e entreter pessoas de todas as idades continua completamente presente, e, pessoalmente, acho que nunca vai morrer. Essa é uma das coisas que eu mais admiro em Sir McCartney. Ele tinha fama e dinheiro, e podia ter abandonado sua carreira musical quando os Beatles estavam em seu auge nos anos 60, mas não foi o que ele fez, nem mesmo nos piores momentos da sua vida, porque é perceptível o quão intensa é sua paixão por música. Na verdade, o que ele fez foi justamente o contrário. No final dos anos 60, a consciência de que o fim dos Beatles se aproximava e uma série de outros fatores pessoais o abalavam emocionalmente, e a vida lhe vinha perdendo valor. Um momento obscuro como esse certamente lhe tiraria a vontade de tudo, mas não de fazer música. Isso foi o que remanesceu. Sua frustração lhe trouxe inspiração, e o levou a compor, na minha opinião, uma de suas maiores composições, "Let It Be", que além de ajudá-lo a encontrar forças, motivou milhares de pessoas, e ainda o faz até hoje. A música vive dentro dele.  O fim dos Beatles foi um momento extremamente difícil e complicado em sua vida, porque rompia com o fim de uma parceria épica (com John Lennon) e um grupo extremamente talentoso, que poderia oferecer muito mais ao público do que já tinham recebido. Isso o devastou, mas não o fez parar de escrever melodias maravilhosas. E aqui está ele, hoje, aos 69 anos, talvez com algumas rugas a mais, mostrando que continua com o mesmo talento e amor por música, sendo capaz de agitar um estádio inteiro com mais de 50 mil pessoas em um show de quase 3 horas. É impossível descrever a sensação de ouvir "Hey Jude" em primeira mão, com tantas pessoas cantando em coro. Foi um dos momentos mais bonitos da minha vida, e não me surpreenderia de saber que algumas lágrimas escaparam da platéia durante a música, simplismente pela emoção que é transmitida e contagia a todos que o assistem. Seu humor, carisma e presença de palco fazem com que suas apresentações sejam únicas e, não há dúvidas que estão entre as melhores da atualidade. Só posso afirmar que me orgulho muito de poder dizer que tive a honra de assistir a uma de suas performances, e que sua música será eterna.

Deixo aqui três vídeos do show para quem quiser assistir.

O primeiro é a chegada de Billy Joel, que contribuiu para uma estupenda apresentação de "I Saw Her Standing There", dos Beatles:



O segundo é "Live And Let Die", que foi mestre nos efeitos de palco (em outras palavras, fodástico):

(OBS - Esse é do dia 15 mas os efeitos foram os mesmos!)

O terceiro é "Hey Jude", simplismente porque foi lindo demais para colocar em palavras.



"Nothing pleases me more than to go into a room and come out with a piece of music."
- Paul McCartney

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Nota Linguística.

Estou escrevendo aqui por causa de um post completamente absurdo que li no tumblr. Não sei se foi irônico ou não, mas não interessa, porque sei que muita gente concordaria com quem quer que tenha inventado isso:


"Nós só não falamos a língua mais difícil do mundo como nós também somos a única língua capaz de dominar  todas as outras línguas sem dificuldade em palavras e sotaques."


Se essa não foi a coisa mais absurda que eu já li no tumblr, com certeza está entre as 5 primeiras. Em primeiro lugar, um único indivíduo não pode conhecer todas as línguas para poder determinar qual delas é a mais difícil, mas existem linguistas que estudam o que elas têm em comum e o que as diferenciam. Em segundo lugar, tudo depende de qual é a sua língua materna. O falante nativo do inglês provavelmente enfrentaria dificuldades ao aprender o português, uma vez que o inglês possui palavras mais simplificadas - exemplo disso é a conjugação dos verbos, que quase não muda no inglês. O português, por outro lado, apresenta uma conjugação verbal bastante complexa, e no Brasil vem sofrendo grandes alterações há várias décadas, como a perda do significado original da palavra "você" e sua incorporação para a segunda pessoa. Isso até nos aproxima do inglês, tendo em vista que dessa forma a segunda e a terceira pessoa do singular não sofrem alterações em sua conjugação (você vai - ele vai). Agora, para falantes nativos do espanhol, do italiano ou do francês, o português fica muito mais fácil de aprender, tendo em vista que todas essas línguas têm sua origem no latim e apresentam pontos semelhantes. Se um brasileiro decide aprender alemão, polonês e línguas do leste e norte europeu, por outro lado, parece uma tarefa impossível, porque essas línguas apresentam uma série de fatores linguísticos que não são aplicados no português. Temos ainda o chinês, o japonês, o russo, o árabe e outras línguas asiáticas, que possuem alfabetos completamente diferenciados. Isso tudo sem contar com os inúmeros dialetos africanos, ainda pouco explorados pelo resto do mundo. E qualquer falante, repito, qualquer falante, de qualquer língua é capaz de aprender outras línguas sem apresentar  quase nenhum sotaque, desde que a pessoa more por uns bons anos no país da língua estrangeira. Por outro lado, se você não convive com a língua o tempo todo, a tendência é apresentar sotaque.  E às vezes nem a convivência resolve. A língua nativa sempre vai estar presente de uma forma ou de outra. Um novo idioma só é completamente dominado quando se convive com ele 100% do tempo. E ninguém aprende uma nova língua sem apresentar dificuldades. Fim da história.